“Devemos ter um concepto amplo sobre o acesso à saúde”, diz Elmer Huerta

As inscrições ao Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde estarão abertas até 4 de abril de 2018. Serão recebidos trabalhos originais em espanhol ou em português, produzidos e publicados ou emitidos na América Latina entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2017, nas categorias Radio e Internet. Você pode se inscrever no prêmio aqui.

Durante a etapa de convocação do prêmio, a FNPI – Fundação Gabriel García Márquez para o Novo Jornalismo Ibero-americano realizará workshops curtos e gratuitos sobre o acesso à saúde em cinco países latino-americanos. Quatro desses eventos serão dirigidos pelo assessor médico da CNN, Elmer Huerta, pré-jurado do Prêmio Roche em 2015.

Por isso, entrevistamos a seguir o especialista de origem peruana sobre a importância de cobrir o acesso à saúde.

FNPI: No seminário web sobre o acesso à saúde, o senhor explicava que os jornalistas abordavam pouco o tema do acesso à saúde desde o olhar das barreiras culturais que influem nesse serviço. O que o senhor quis dizer com isso?

EH: Sim. Para te dar um exemplo, agora que o Papa esteve no Peru era pertinente fazer uma análise sobre o acesso à saúde das comunidades indígenas. Era importante ver uma notícia, que fosse pequena, sobre os indígenas da selva peruana e como eles são atendidos pelo sistema de saúde. O governo tem profissionais preparados, culturalmente sensíveis, para atender e entender as necessidades dessas comunidades? Ou o governo traz desde Lima algum doutor recém-formado que não fala nenhum dos dialetos dessa população da selva? Ou simplesmente colocam esse médico para trabalhar lá como se fosse um trabalho de final de ano para que se forme na faculdade? Digamos que esse é uma cobertura que poderia funcionar, por exemplo.

FNPI: Quais conselhos o senhor daria aos jornalistas da área para que se enfoquem mais no acesso à saúde?

EH: Devemos ter um conceito amplo sobre o que é o acesso à saúde e também entender as quatro grandes barreiras que ele possui: estruturais, financeiras, pessoais e culturais. Por exemplo, uma amiga peruana que vive em Washington me disse uma vez que queria trabalhar na Colômbia, mas que teve um problema (uma condição pré-existente e que por causa disso o seguro não quis aceitar o seu filho na Colômbia. Esse é outro tema de matéria: o acesso à saúde de milhares de pessoas que possuem uma condição de doenças pré-existentes. Cobre-se isso? Se me perguntam qual conselho posso dar aos jornalistas, diria que é necessário entender o amplo conceito sobre o que significa o acesso à saúde, além de conhecer bem as barreiras que impedem que ele seja satisfatório.

FNPI: O que aprenderão os participantes dos workshops?

EH: Vou discutir com os jornalistas como ampliar seus conceitos em relação ao acesso à saúde, falar sobre as barreiras que existem além das esperas nas salas de emergências dos hospitais. Aprendendo isso, acho que os jornalistas terão mais ideias sobre como se pode cobrir esse tema.

FNPI: Quais são os países que o senhor acha que realizam uma cobertura mais abrangente sobre o tema do acesso à saúde?

EH: Acho que encontrei um pouco mais de variedade nas notícias veiculadas na Colômbia e na Argentina, embora não tenha feito uma pesquisa sistemática sobre o tema. Em quase todos os países eu encontrei a típica notícia da demora nas filas de espera dos hospitais.

FNPI: O senhor poderia nos recomendar algumas palavras-chave para levar em conta no momento de cobrir o acesso à saúde?

EH:
Justiça Social
Direitos Humanos
Cuidado Primário
Cuidado Médico Especializado
Disponibilidade
Utilização
Equidade
Provedor
Custo
Serviços

FNPI: Por que iniciativas como o Premio Roche são importante na América Latina?

EH: Premiações como o Premio Roche devem seguir existindo porque são uma maneira prática e ativa de incentivar os jornalistas da América Latina a cobrir temas relacionados à saúde. Esse prêmio é uma forma muito direta, efetiva e simples de incentivar uma maior compreensão e promoção do tema.