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“O bom jornalismo vira questão de interesse público”

“O bom jornalismo vira questão de interesse público”

junho 05, 2016

Gabriela Sá Pessoa, junto com Anna Beatriz Pouza e Natacha Cortêz publicaram em Agência Pública de Reportagem e Jornalismo Investigativo, o trabalho “Dor em dobro” sobre o aborto legal no Brasil. Por esse trabalho foram galardoadas com o Prêmio Roche de jornalismo em Saúde na categoria de Jornalismo Escrito em 2015.

Falamos com Gabriela sobre sua experiência fazendo a história e sobre a importância do Prêmio.

Qual o impacto que teve a reportagem no Brasil? Quais as reações do Ministério de Saúde?

Penso que a grande virtude dessa reportagem é que clarifica como ter acesso ao serviço do aborto legal e onde uma mulher pode ser atendida, informação que até agora o Ministério de Saúde tinha ocultado. Se recusava inclusive de indicar quais hospitais da rede pública de saúde do Brasil tinham equipes estruturadas para o atendimento das mulheres que precisavam de um aborto. Isto é, o que fizemos foi dar luzes sobre um direito tratado com obscurantismo pelo próprio poder público.

 

No jornalismo em saúde, como conseguir o equilíbrio entre o fator humano e os dados?

O que dá o equilíbrio são os relatos, as pessoas que estão por trás dos dados. Foi o que tentamos fazer: falar com mulheres diretamente afetadas pelo tratamento negligente em relação a um direito que devia ser garantido em toda a rede pública de saúde.

 

Vocês percebem um interesse das audiências pelo jornalismo em saúde?

Eu acho que sim. No caso do Brasil, uma pesquisa de opinião do instituto Datafolha revelou que a maioria dos brasileiros considerava que a saúde era o principal problema do país. Isto é, que há uma parte apreciável da população que não tem recebido um serviço básico, que é seu direito, um serviço de qualidade. O bom jornalismo em saúde vira assim, mais do que nada, uma questão de interesse público.

No âmbito formal e técnico, penso que os trabalhos investigativos de longo prazo, como o nosso, que foi de seis meses, encontram maior espaço nos meios digitais, onde não há limites de texto. Porém, tudo isso ainda pertence ao âmbito da reportagem especial, eu não o vejo como algo já incorporado ou que esteja na lógica diária.

 

Quais as técnicas narrativas que você recomendaria usar a um jornalista que esteja trabalhando com temas de saúde? 

Eu penso que o principal é humanizar as narrativas, contar histórias. Como eu já disse, procurar pessoas diretamente afetadas pelos problemas de acesso à saúde, mais além das estatísticas.

 

Qual você considera que é a contribuição do Prêmio Roche ao jornalismo em saúde na América Latina?

É um grande estímulo para os artigos corajosos sobre temas de saúde, que precisam maior tempo e investigação. No nosso caso – uma reportagem financiada coletivamente pela Internet -, acho que marcou um ponto de inflexão na nossa trajetória. Somos repórteres jovens, pelo que teria sido muito difícil encontrar espaço e apoio para realizar essa investigação noutros meios que não fossem a Agência Pública — e o projeto Reportagem Pública, que acreditou em nós —. Receber esse prêmio, mais do que um reconhecimento em si próprio do nosso trabalho, é apostar mais uma vez pelo valor da Agência Pública, que deu os recursos para que três garotas pudessem aprofundar em uma grave violação dos direitos humanos e de saúde pública das mulheres brasileiras.

Se você quiser participar nesta edição do Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde, confira todos os detalhes aqui.

 

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